Nilson Ribeiro: Vem aí a Copinha. Uma chance de se torcer o pepino



Nilson Ribeiro: Vem aí a Copinha. Uma chance de se torcer o pepino
Clubes se preocupam mais em lapidar o talento e se esquecem da disciplina da garotada
Publicado na segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Campinas, SP, 30 (AFI) - Todo ano começa do mesmo jeito. Muita chuva, muita inundação em alguns cantos do país e a tradicional Copa São Paulo de Futebol Júnior, onde centenas de garotos de todo recanto do Brasil tentam conquistar um lugar ao sol. É muito comum os canais de comunicação relembrarem grandes talentos que brotaram na competição. Não é de se espantar, uma vez que todos os clubes aproveitam esses jogos para testarem suas melhores promessas.

Mas é uma pena que, ainda tão jovens, esses talentos já demonstrem, em grande escala, os mesmos vícios disciplinares dos jogadores profissionais. Principalmente no que se refere à violência em campo, à catimba e às simulações. No afã de demonstrarem seu potencial, esses meninos entram no gramado como quem vai ao campo de batalha. E, em algumas partidas, o que se assiste é um vale tudo sem propósito, com garotos imitando o que há de mais reprovável em seus ídolos.
Há um antigo ditado que diz: “é de pequeno que se torce o pepino”. Meu pai falava isso toda vez que me passava um sermão, todos eles merecidíssimos. Hoje eu agradeço a paciência do velho em torcer o pepino. É essa paciência que eu gostaria de ver nos dirigentes dos clubes, nos treinadores dessas equipes juniores, em toda arbitragem da Copinha e na própria organização da competição. Somente uma ação conjunta pode surtir um bom efeito nos meninos que são nossas promessas para os próximos anos.

É claro que tudo começa na casa do garoto. Mas nem todos vão ter a sorte de ter um Tião como pai, como eu tive. Carinhoso sempre e severo quando necessário. Me ensinou ética, generosidade, honestidade, humildade e respeito. Valores que precisam vir antes de qualquer conquista pessoal. Sem uma delas, não há vitória que valha a pena. Assim aprendi.
Mas os que não tiveram essa estrutura, podem ainda ser corrigidos nos próprios clubes. Dirigentes e treinadores devem estar atento à disciplina, dentro e fora de campo. Torcer agora o pepino do “fair play”, do jogo limpo, do respeito ao adversário e aos colegas do próprio time. Tudo isso deveria vir antes do talento. É preciso refrear a ansiedade dos meninos e mostrar a eles que um grande craque nasce de um grande caráter antes de tudo.
A organização do evento e a arbitragem devem ser severas com a punição à violência dentro de campo. Jogadores que brigam, socam seus adversários, praticam anti-jogo ou esquecem que estão dentro de uma arena de futebol e não no rinque, circo ou teatro, esses devem aprender agora que tudo isso tem um preço alto a se pagar. É a última chance de entenderem o recado antes de se tornarem profissionais. E, mais tarde, como profissionais, poderão dar melhor exemplo para os pupilos que buscam suas chances.
Que venha, então, a Copinha, com a chuva de sempre, com os bons jogos costumeiros, com toda impetuosidade da garotada. Mas que seja muito mais que uma vitrine, como sempre dizem. Que seja uma oportunidade para que o pepino seja torcido, e, além de craques, forme grandes seres humanos que jogam futebol.

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