Campinas, SP, 24 (AFI) - A América é do Galo. Forte e vingador como nunca, que o digam São Paulo, Tijuana, Newell's Old Boys e Olímpia, que ficaram pelo caminho. Com a força do Horto, um santo embaixo das traves e um gênio como camisa 10, o Atlético-MG acabou com a sina que durava mais de 40 anos sem a conquista de títulos importantes ao levantar o título da Libertadores da América, e pintou o continente de preto e branco.
Após fazer boa campanha no Brasileirão do ano anterior, o Atlético-MG entrou como um dos favoritos ao título e não decepcionou. A tríade Bernard, Ronaldinho e Jô ganhou um companheiro de peso: Diego Tardelli. A chegada do atacante deixou o time ainda mais forte e confirmou o Galo como um dos melhores. Do meio para trás, Victor garantia a tranquilidade dos atleticanos.
Na primeira fase, o Galo atropelou, não deu chances a ninguém. Com um futebol vistoso e uma dose de malandragem, o Atlético-MG venceu as cinco primeiras partidas, atropelando São Paulo, Arsenal de Sarandí, da Argentina, e The Strongest, da Bolívia. Na última rodada da chave de grupos, o Tricolor deu o troco, venceu a garantiu a classificação suada.
Outros brasileiros, Fluminense e Grêmio caíram na mesma chave e se classificaram. Os cariocas, que vinham como campeões brasileiros, tiveram vida mais fácil. Com apenas uma derrota, o Tricolor avançou em primeiro, enquanto os gaúchos, que eram comandados por Vanderlei Luxemburgo sofreram. Sem apresentar um bom futebol, o time se classificou em jogo polêmico contra o Huachipato, do Chile, com direto a confusão após o jogo e Luxa tomando porrada.
Pela primeira vez em muitos anos, os três principais times de São Paulo estiveram na Libertadores e honraram o nome do futebol paulista. O São Paulo chegou a fase de grupos sem dificuldade, ao eliminar o Bolívar com duas goleadas. Azar foi ter caído no grupo do Atlético-MG. Atual campeão da América, então, o Corinthians caiu num grupo onde não teve dificuldades, enquanto o Palmeiras, com um time limitado, mostrou a força da camisa e passou como líder da chave.
Logo em sua estreia na Libertadores, uma tragédia marcou o Corinthians. Um sinalizador disparado pelos torcedores corintianos, que estava na Bolívia para acompanhar o duelo contra o San José, acabou matando o garoto Kevin Spada. Mesmo sem a identificação do autor do disparo, dez corintianos ficaram mais de seis meses presos respondendo pelo crime. A tragédia acabou complicando o time dentro de campo também. Isto porque o time paulista teve que jogar as primeiras partidas dentro de casa, contra o Millionarios e Tijuana, sem torcida.
Mesmo assim, os corintianos não se abalaram e responderam bem dentro de campo. Com quatro vitórias, o Timão terminou como líder do grupo, levando vantagem sobre o Tijuana, do México, no saldo de gols. Os mexicanos acabaram com uma invencibilidade de 16 jogos dos paulistas com a vitória por 1 a 0, em Tijuana, na fronteira com os Estados Unidos.
Ainda juntando os cacos pelo rebaixamento no Brasileirão, o Palmeiras mostrou porque é um dos maiores times da América. Com um time limitado, sem grandes jogadores, o Verdão venceu as três partidas dentro de casa e garantiu a classificação em primeiro lugar no saldo de gols, o duelo contra o Libertad, do Paraguai, foi o mais épico de todos. Um 1 a 0 suado, com um jogador a menos. Fora de casa, porém, o clube penava, jogava mal e reviveu adversários. Após o duelo contra o Tigre, na Argentina, torcedores perderam a paciência após a fraca atuação na derrota por 1 a 0 e tentaram agredir alguns jogadores como o meia Valdívia, no aeroporto. O goleiro Fernando Prass acabou atingido for uma xícara na orelha.
O São Paulo foi quem mais sofreu. Meio que anestesiado pela conquista da Sul-Americana no ano anterior, o Tricolor entrou perdido na fase de grupos, logo de cara perdeu para o Atlético-MG, depois teve dificuldades para passar por Arsenal e The Strongest-BOL, mas terminou o primeiro turno em segundo lugar. No duelo contra os argentinos, fora de casa, na abertura do returno, o time abusou de perder gols e acabou tomando a virada. Em seguida, derrota para os bolivianos e o temor pela queda ainda na primeira fase. No Morumbi, o Tricolor mostrou a força do tricampeão da América, bateu o todo poderoso Atlético-MG e garantiu a vaga no saldo de gols.
Na hora do mata-mata, porém, os paulista decepcionaram. Como terminaram como primeiros colocados em seus grupos, Palmeiras e Corinthians receberam o direito de decidirem dentro de casa a vaga nas quartas-de-final. O Timão fez a reedição da fase anterior contra o Boca Juniors, enquanto o Verdão teve pela frente o temido Tijuana, com viagem longa e campo de grama sintética. Dentro de campo, os times se complicaram sozinhos.
O Corinthians saiu atrás e foi derrotado por 1 a 0, em La Bombonera. Na volta, no Pacaembu, o time saiu atrás após gol de Riquelme e ficou em situação delicada, mas foi guerreiro. Paulinho empatou o jogo no começo do segundo tempo. O meio-campista estava impossível, chegou a balançar as redes duas vezes, mas o árbitro Carlos Amarilla não estava disposto a ajudar o Timão, anulou dois gols legais que dariam a classificação e o clube deu adeus.
Já o Palmeiras fez o mais difícil. Na base da raça e da disciplina tática, o Verdão foi até o México e segurou um 0 a 0 bastante comemorado contra o Tijuana. Na volta, uma simples vitória classificaria o time, contra todos os prognósticos. Classificaria. No maior público do ano no Estádio do Pacaembu. Mais de 36 mil palmeirense, viram Bruno tomar uma frango história no primeiro tempo e complicar a vida do Verdão. Arce ainda marcou para os mexicanos, enquanto Souza descontou.
O caso do São Paulo foi diferente. Como pior segundo colocado, O Tricolor encarou novamente o Atlético-MG na fase seguinte. No jogo de ida, no Morumbi, muita pressão e o Tricolor conseguiu sair na frente, gol de Jadson. Em seguida, o jovem Ademílson perdeu dois gols inacreditáveis e Lúcio resolveu roubar a cena. Com a grossura que lhe é peculiar, o zagueiro cometeu duas faltas graves e foi expulso. Consequência: virada do Galo e grande vantagem para o segundo jogo. No Horto, o time mineiro não deu chances, goleou por 4 a 1 e enterrou os paulistas.
São Vitor e Galo de raça!
Ao lado do Fluminense, que eliminou o Emelec nas oitavas-final, o Atlético-MG era o único brasileiro nas quartas-de-final. Pelo caminho do Galo estava o temido Tijuana, enquanto o Tricolor tinha pela frente o capenga Olímpia, do Paraguai, que chegou a esta etapa da competição com quatro meses de salários atrasados. Mesmo com tantos problemas, os paraguaios eliminaram os campeões brasileiros, após empate sem gols no Rio e vitória por 2 a 1 em casa.
O Galo, por sua vez, deu início a uma saga que nem os melhores roteiristas seriam capazes de escrever. Nas quartas, no duelo contra o Tijuana, o Atlético-MG chegou a estar perdendo por 2 a 0, no México, mas foi valente e arrancou o empate por 2 a 2. No jogo de volta, que sufoco. Os mexicanos abriram o placarlogo no primeiro tempo, mas Réver deixou tudo igual. Os mexicanos pressionaram, carimbaram a trave, e no último lance, Leonardo Silva cometeu pênalti infantil, podendo acabar com o sonho de milhares. Victor, porém, estava lá. Com os pés, ele defendeu a cobrança de Riascos e manteve as chances vivas. Quase não deu para acreditar.
Nas semifinais, mais sofrimentos. Pelo caminho estava o campeão argentino, Newell's Old Boys. No jogo de ida, a primeira derrota na Libertadores. Sem jogar bem, o Galo tomou 2 a 0. Mas no Horto foi diferente. Em jogo nervoso, logo aos três minutos, Bernard colocou o time mineiro no jogo. Depois de tentativas frustradas, defesas de Victor, o Atlético-MG caminhava para a eliminação. Aos 32 minutos, porém, uma queda de energia parou o jogo por cerca de 20 minutos e esfriou a partida. Na volta, os donos da casa colocaram o pé no acelerador, marcaram o segundo gol e forçaram os pênaltis. Nas penalidades, Victor apareceu novamente, pegou a penalidade decisiva de Maxi Rodríguez e colocou o Galo na final.
Na final, o Atlético-MG cruzou contra um adversário improvável, o Olímpia. Mesmo carregado pela força de sua camisa e tradição, os paraguaios não atravessavam bom momento, com atrasos de salários e problemas internos. Mesmo assim, a equipe mostrou força e venceu o jogo de ida por 2 a 0. Como aconteceu no duelo da semifinal, o Atlético sofreu em campo e levou à torcida ao desespero. Apesar da pressão constante, o time mineiro só chegou ao primeiro gol no início da segunda etapa, com Jô. O segundo veio apenas aos 41, da cabeça do zagueiro Leonardo Silva. . E, aos 38, os paraguaios tiveram sua melhor chance no segundo tempo. Ferreyra foi lançado, Victor saiu do gol, mas não conseguiu o corte. Mas, na hora do chute, o paraguaio escorregou
Os torcedores mais supersticiosos disseram que o gramado do Mineirão desarmou o atacante ou até mesmo o espírito de ex-presidentes e ex-jogadores deram carrinhos para desarmar o jogador. Depois de uma prorrogação desgastante, os brasileiros levaram a decisão para os pênaltis. Logo na primeira cobrança, Victor pegou no meio do gol, Alecssandro, Guilherme, Jô e Leonardo Silva fizeram. Na cobrança decisiva, Giménez bateu no travessão e o Mineirão explodiu, talvez como nunca tinha explodido antes. O Gigante da Pampulha era preto e branco, a América era do Galo.
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